A (incrível) influência da postura corporal na sua qualidade de vida

Na literatura o conceito de Postura Corporal (PC) é abordado por diversos autores como o posicionamento dos segmentos corporais no espaço, dependente dos reflexos miotático, labiríntico, epitelial e visual para que haja a menor sobrecarga possível no indivíduo, evitando mecanismos de fadiga. A PC também está relacionada às adaptações neurais e musculoesqueléticas durante os movimentos, fragmentando a definição em Postura Corporal Estática (PCE) e Postura Corporal Dinâmica (PCD).

As características individuais e fatores extrínsecos influenciam de maneira significativa na postura corporal, tais como a personalidade, gênero, idade, etnia, atividades de vida diária, ambiente, temperatura e até mesmo a saúde mental.

O desenvolvimento neuropsicomotor e o processo evolutivo da espécie humana são determinantes de suas características posturais, contribuindo para a posição bípede, que se opõe à força gravitacional.

O equilíbrio da postura corporal é um processo complexo, submetido ao funcionamento dos sistemas vestibular, visual, do sistema nervoso central e periférico, bem como das respostas adequadas do sistema musculoesquelético aos estímulos sensoriais.

Estas respostas se relacionam com a integridade da amplitude de movimento (flexibilidade), força muscular e propriocepção. Como estratégia biomecânica de manutenção do equilíbrio, o indivíduo busca sustentar seu centro de gravidade no interior da sua base de apoio utilizando todas as atribuições descritas.

PROBLEMAS DE COLUNA
Entre os fatores que desencadeiam alterações posturais, que muitas vezes apresentam características irreversíveis, destacam-se posicionamentos incorretos, além da alta sobrecarga no ambiente de trabalho e durante as atividades domiciliares, uma vez que as posturas ideais para execução das tarefas normalmente não são respeitadas. Os indivíduos que são submetidos a uma sobrecarga superior ao limite de sua massa corporal e que não seguem os critérios de ergonomia podem sofrer lesões graves.

É importante ressaltar que diversas condições clínicas e doenças, além dos maus hábitos na vida diária, podem cursar com má postura. Alguns exemplos são descritos nos tópicos abaixo.

HÉRNIAS DISCAIS
As hérnias discais são condições de deslocamento do núcleo pulposo (estrutura central do disco intervertebral) que causam uma compressão das raízes nervosas ou da própria medula espinhal, subdividindo-se em:

  1. a) Hérnias protrusas, nas quais o disco intervertebral se alarga, com preservação do núcleo pulposo na região central;
  2. b) Hérnias extrusas, nas quais o ânulo fibroso se rompe e o núcleo pulposo de fato se desloca do meio interno para o externo do disco;
  3. c) Hérnias com sequestro, caracterizadas pela migração do núcleo pulposo para o interior do canal medular, sendo a condição mais grave entre todas as subdivisões existentes.

Na maior parte das ocasiões o paciente busca a postura antálgica, ou seja, aquela que irá minimizar o quadro álgico e gerar mais conforto, mas este tipo de posicionamento não é favorável a longo prazo, pois provoca contraturas musculares e deformidades de difícil tratamento, quando a causa do quadro álgico não é tratada precocemente.

[perfectpullquote align=”right” bordertop=”false” cite=”” link=”” color=”” class=”” size=””]O sedentarismo e a obesidade contribuem para o enfraquecimento da musculatura estabilizadora da coluna vertebral[/perfectpullquote]ESPONDILÓLISE
Definida como alterações estruturais na coluna vertebral, que geralmente acometem as lordoses cervical e lombar. A localização se deve ao fato de as lordoses representarem as regiões de maior mobilidade.

A idade e os maus hábitos posturais são fatores de risco para o desenvolvimento desta condição clínica, e a formação de osteófitos – estruturas ósseas indesejáveis formadas através da lei de Wolff – é uma das consequências tratáveis, porém com impossibilidade de reversão.

Pode levar à protrusão discal, sobrecarregando outras regiões da coluna, causando desta forma radiculopatias ou mielopatias. O desfecho deste processo também são as posturas antálgicas.

ESPONDILOLISTESE
Definida pelo deslizamento anterior do corpo de uma vértebra sobre a outra. A espondilolistese traumática é uma condição mais rara, e se dá na coluna lombar em indivíduos adultos, manifestando no paciente sintomas como fraqueza muscular e redução da Amplitude de Movimento (ADM). A forma não-traumática é causada por processos degenerativos e, entre eles, a má postura está inserida.

FLACIDEZ ABDOMINAL
O sedentarismo e a obesidade contribuem para o enfraquecimento da musculatura estabilizadora da coluna vertebral. O centro de gravidade é intimamente dependente do equilíbrio entre agonistas e antagonistas dos movimentos de tronco. Quando o desequilíbrio muscular desloca o centro de gravidade em qualquer sentido e/ou direção, isso acarretará mudanças na postura corporal do paciente.

ESPONDILITE ANQUILOSANTE
Doença inflamatória dos tecidos conjuntivos, atinge diversas articulações e faz com que o paciente assuma uma postura fletida, conhecida como “Postura de Esquiador”.

DOENÇAS NEUROLÓGICAS
O Sistema Nervoso Central e periférico participam do controle postural, e lesões em suas estruturas vão causar diferentes resultados nas articulações. Isso se deve às funções das vias do Sistema Nervoso, ao funcionamento do cerebelo, do tronco encefálico, do córtex motor, e dos nervos periféricos de modo geral.

São exemplos de doenças neurológicas que prejudicam a postura:

  1. a) Parkinson;
  2. b) Doença de Alzheimer;
  3. c) Esclerose Múltipla;
  4. d) Esclerose Lateral Amiotrófica;
  5. e) Distrofia Muscular de Duchenne;
  6. f) Neuropatias periféricas em geral;

PROBLEMAS DE  UMA POSTURA INCORRETA
Os vícios posturais e/ou doenças que causam posturas inadequadas, se não tratados, irão promover processos degenerativos articulares, provocar erosões ósseas, desenvolver osteófitos e gerar dor crônica nos pacientes acometidos. A formação de contraturas musculares, pontos-gatilho, déficit de equilíbrio e propriocepção, também podem ser apontados como consequências da postura corporal incorreta.

DORES NA COLUNA
A lombalgia inespecífica é um quadro clínico de alta prevalência na sociedade e está associada a características biológicas, psicológicas e sociais, como descrito anteriormente. Como maus hábitos posturais sofrem influência de todas estas características citadas, eventualmente podem ser os causadores de quadro álgico não somente na coluna, como também nas demais regiões do corpo.

MAU FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS INTERNOS
O sistema renal, respiratório e gastrointestinal são três exemplos de conjuntos de órgãos que podem ser prejudicados pela má postura. Quanto ao sistema respiratório especificamente, o mau posicionamento do tronco pode reduzir expressivamente a expansibilidade pulmonar (complacência), dificultando a mobilização de ar para a parte interna e externa dos pulmões.

Já o sistema gastrointestinal não realiza os movimentos da peristalse (propulsão e mistura) adequadamente, por falta de espaço. Gastrites, esofagites, refluxo, hérnias e constipação intestinal são consequências comuns de uma postura corporal incorreta.

[perfectpullquote align=”right” bordertop=”false” cite=”” link=”” color=”” class=”” size=””]Cuidar da postura é muito mais que um simples alinhamento, é melhorar a função de vários órgãos e sistemas[/perfectpullquote]DEFORMAÇÃO DA COLUNA
Analisando os planos de movimento (sagital, coronal e transversal), constata-se que a coluna se distribui de maneira distinta, e esta distribuição tem um propósito bem definido. No plano sagital, é possível observar lordoses (cervical e lombar) e cifoses (torácica e sacro-coccígea).

As lordoses têm como função gerar diferentes graus de liberdade para que a coluna se movimente, enquanto as cifoses são conjuntos de vértebras que formam uma convexidade posterior, com a função de estabilizar a coluna. Alterações nas curvaturas do plano sagital são denominadas retificações, hiperlordoses e hipercifoses.

No plano coronal o que se espera é uma coluna em linha reta, ou com pequenos graus de inclinação entre as vértebras. Caso haja uma inclinação muito significativa, pode-se classificar o fenômeno como alteração postural e, neste caso, é chamada de escoliose.

Existem testes clínicos que conduzem o profissional ao diagnóstico da última, sendo os principais os ângulos de Cobb e Fergusson, bem como identificação de gibosidades em flexão anterior de tronco. As rotações vertebrais relacionam-se com o plano transversal, e aparecem com frequência juntamente com as inclinações laterais (escolioses).

HORA DE SE CUIDAR
Cuidar da postura é muito mais que um simples alinhamento, é melhorar a função de vários órgãos e sistemas. O desequilíbrio da postura corporal está relacionado à fraqueza muscular, dores osteomioarticulares, redução do ar mobilizado nos pulmões e até mesmo a complicações renais e gastrointestinais.

As condutas expostas neste artigo poderão nortear o tratamento fisioterapêutico dos desvios posturais e prevenir que o corpo seja prejudicado de maneira global. Além disso, os próprios pacientes e familiares poderão reconhecer a importância da reabilitação e se sentir motivados a buscar o tratamento.

Somente profissionais qualificados são capazes de tratar a postura corporal, e para uma abordagem completa é preciso que fisioterapeutas, psicólogos, médicos, nutricionistas e educadores físicos estejam intervindo em conjunto, considerando as origens do posicionamento corporal no espaço.

(Fonte e imagens: Blog Fisioterapia)